RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Eduardo Sterblitch está se despedindo da temporada carioca de “Beetlejuice, o Musical”. Depois de uma pausinha breve, reestreia no início de 2024 em São Paulo. São os últimos dias em cartaz da produção que lhe rendeu elogios e fechou um bom ano profissional.
Graças ao espetáculo e à atuação na série “Os Outros”, do Globoplay, ele foi alçado ao elenco de estrelas da Globo e em breve estará à frente de dois novos projetos na emissora, ainda mantidos em segredo -ele é daqueles que não gosta de adiantar novidades. “Prefiro trabalhar com a surpresa”, diz.
Em uma manhã livre (perdeu a hora do analista), ele conversou por quase uma hora com a reportagem. Achou graça de ser chamado de “inteligente” por vários colegas nos bastidores e contou que é uma pessoa tímida. Muitos não acreditam. “Na verdade, eu tenho medo das pessoas. Me exponho, sou transparente demais e respondo a qualquer pergunta, mas sou receoso com o outro”.
Diz que seu humor é o humor do erro e se considera um palhaço. Eduardo nega rejeitar o passado ao falar da sua relação com o “Pânico na TV!” e aponta ex-integrantes, que não gostam dele, como responsáveis por essa história de relação ruim com o antigo trabalho.”O programa foi um fenômeno na minha vida. Me fez virar uma pessoa popular e entender que eu era engraçado”.
PERGUNTA – A versão brasileira do musical da Broadway ‘Beetlejuice vem fazendo sucesso e você, o protagonista, tem sido elogiado. Muita gente lembra que Alexandre Nero tinha sido convidado para o papel e imaginam como ele estaria à frente da produção…
EDUARDO STERBLITCH – O Alexandre Nero faria superbem, assim como o João Telles (alternante) atua de forma genial. É um personagem muito bom e, claro, tem gente que vai sangrar mais para fazer, outros vão sangrar menos. É do meu estilo artístico sangrar mais.
P – É um clichê ou você acredita que o personagem escolhe um ator?
ES – Não tenho essa e acredito que o artista que escolhe quais são os trabalhos que ele quer fazer ou não. O ator é sempre que comanda e quando o personagem passa a comandar, fica uma coisa um pouco perigosa.
P – Musical é um tema controverso no Brasil, um pouco ‘ame ou odeie’. Você sempre gostou?
ES – Não. Nunca fui muito fã de musical. Na verdade, odeio quando eu vou assistir alguma coisa que eu já sei mais ou menos o que vai acontecer, sabe? Seja ele um musical ou um filme, ou uma série… A produção tem me surpreender. É propor, é tentar fazer o diferente. É ser o pop do alternativo.
P – Mas ‘Beetlejuice’, inspirado no filme de Tim Burton, foi uma peça que você tentou comprar. Queria trazer para o Brasil.
ES – Verdade e, graças a Deus, não consegui comprar porque eu não tenho dinheiro para isso. Eu ia me endividar, ia me ferrar todo para fazer isso. Então, Deus sabe o que faz.
P – Você chegou a fazer audições para o personagem?
ES – Eu estava escrevendo uma peça, quando o diretor Rafael Quiroga me avisou sobre as audições. Parei tudo e o universo conspirou a favor. As coisas têm que acontecer e você não tem muito controle. É só estar disponível e preparado para a guerra.
P – Estava escrevendo uma peça sobre o quê?
ES – A peça se chama ‘Freddy Mercury para Teatro’. É sobre o meu personagem e vou contar o dilema e a tragédia pessoal desse personagem popular. Ele é o palhaço que eu tenho. É o Beetlejuice meu e não do Tim Burton.
P – Outros atores te elogiam bastante nos bastidores…
ES – Não sabia (risos).
P – Chamam você de brilhante, inteligente, e com o raciocínio muito rápido.
ES – Talvez eu seja inteligente porque eu tenho noção da minha ignorância. Existem muitas pessoas que se acham muito e coisa e tal. Na verdade, quem conhece muito é um desesperado, né? Eu não sei de nada e questiono tudo. Tipo: por que as cores dos sinais de trânsito são verde, vermelho e amarelo? Por que cadeira se chama cadeira? Não me acostumo com as coisas e essa impressão de que eu sou inteligente é porque eu sei da minha ignorância.
P – O que você anda lendo?
ES – Leio muitos livros de teatro. Gosto de ler dramaturgia.
P – Tem hobbies, o que gosta de fazer quando tem um tempo livre?
ES – Sou uma pessoa criativa. Crio coisas para mim, para Louise (D’Tuani, com quem é casado desde 2015) e para meu filho (Caetano, de oito meses), como uma brincadeira ou um objeto e por aí. Gosto de convidar amigos e fazer comida. Muita comida. Adoro petiscos e cerveja. Gosto de ficar em casa e também de ir a churrascarias. Aliás, se um dono de churrascaria ler essa entrevista, por favor, me dê um voucher.
P – Você já disse uma vez que as pessoas não acreditam, mas que você é tímido.
ES – Sou sim. Na verdade, eu tenho medo das pessoas. Me exponho, sou transparente demais e respondo a qualquer pergunta, mas sou receoso com o outro. Tenho medo mesmo das pessoas.
P – Medo das pessoas?
ES – Ué… Só você ver o que as pessoas estão fazendo com as outras no mundo inteiro. Gente que não se entende, temos que lidar com inveja, raiva, frustração, muitos sentimentos ruins… A série “Os Outros” (ele grava a segunda temporada) escancara tudo isso, e aí prefiro ficar mais na minha. Sou uma pessoa quieta mesmo porque eu não confio nos seres humanos.
P – Em qual prateleira do humor você estaria?
ES – Acho que o meu humor é o humor do erro. Sou um palhaço e estudei para isso. Então eu tenho humor físico. O meu humor é o humor da pantomima. É o que eu mais sei fazer e quero poder trabalhar com isso mais no futuro. O Beetlejuice me ajuda muito nesse lugar dos fundamentos de palhaço e da máscara. Estou vendo a minha criança feliz em cena.
P – Ficou alguma coisa mal resolvida com o “Pânico na TV”?
ES – Zero. Tenho grandes amigos no ‘Pânico’ e com certeza sei que alguns integrantes, ou melhor, ex-integrantes, não gostam de mim e aí essas pessoas pegaram pilha comigo por motivos da vida… Sei lá … Acontece é que volta e meia surgem essas histórias ‘Edu falou mal do Pânico, Edu cuspiu no prato’… Não tem nada disso. O programa foi um fenômeno na minha vida. Me fez virar uma pessoa popular e entender que eu era engraçado. Nunca quis fazer televisão e o ‘Pânico’ me trouxe isso. Mas quem me fez artista foi o teatro. É bom deixar isso claro.
P – E o Eduardo pai? Como é?
ES – Para mim está tudo ótimo e tomara que para ele esteja bom também. É muito difícil ter bons pais, mas o legal é que os homens estão acordando e percebendo que não é uma obrigação e, sim, natural, ser amigo e estar ali. Amo muito meu filho e quero que ele conte comigo sempre na vida dele. Faço o meu melhor, sempre vou dar o meu melhor.