77% das brasileiras dizem já ter usado item alternativo para conter fluxo menstrual

ISABELLA MENON (FOLHAPRESS) – Papel higiênico, panos e toalhas de papel são os itens mais usados entre as mulheres que tiveram que adaptar produtos de higiene menstrual para conter o fluxo. No país, 77% das mulheres com 16 anos ou mais dizem que já passaram por essa situação.

O que motivou o uso de itens alternativos está diretamente relacionado à classe social. Enquanto para mulheres das classes A e B o esquecimento é a principal razão (83%), para as das D e E a falta de dinheiro (55%) é o fator determinante para isso.

Os dados estão na pesquisa “As Brasileiras e a Pobreza Menstrual”, divulgada nesta terça-feira (15). Realizado pelo Instituto Locomotiva, o trabalho analisou a relação das brasileiras com a menstruação e o problema estrutural da pobreza menstrual.

A pesquisa foi dividida em dois momentos.

Para a etapa qualitativa, foram realizadas rodas de discussão de uma hora e 30 minutos sobre o assunto com 24 mulheres de 16 a 39 anos das classes C e D.

Na quantitativa, houve 1.016 entrevistas, por meio de questionário online, com mulheres de 16 a 50 anos, que menstruam.

A pesquisa não ouviu homens trans e pessoas não binárias.

De acordo com uma pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Unesp, a parcela adulta que se identifica como não binária (não pertencem a um gênero exclusivamente) e homens transmasculinos corresponde a 1,19% e 0,33%, respectivamente, da população brasileira.

Procurada, a empresa afirmou que, “mais que trazer a população trans em uma pesquisa, a marca acredita que as ações efetivas fazem mais diferença”.

“Nossos esforços de combate à pobreza menstrual incluem a doação de produtos para toda a população que menstrua, além da aceleradora social que ampliará o alcance dessa luta, não só para mulheres”, disse a Always, em nota.

O estudo aponta ainda que apenas 20% das mulheres se sentem bem informadas sobre os corpos durante a menstruação e 52% já sofreram alguma privação relacionada à pobreza menstrual. O fenômeno, intensificado nas regiões de extrema pobreza, é entendido pela falta de acesso de mulheres e de homens transexuais a produtos de higiene menstrual, saneamento básico adequado e conhecimento suficiente para lidar com a menstruação.

O perfil mais exposto a esse fenômeno, ainda de acordo com o levantamento, é o de mulheres das classes D e E, negras, das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, empregadas sem carteira assinada ou desempregadas e aquelas que possuem o fluxo menstrual intenso.

No mercado de trabalho, 5,5 milhões das mulheres já faltaram ao trabalho ao menos uma vez em decorrência da pobreza menstrual, e 4,3 milhões, mais de uma. Estima-se que essas faltas gerem um prejuízo de R$ 2,4 bilhões na economia brasileira por ano.

A menstruação já foi motivo de constrangimento para 23% das mulheres. As humilhações ocorreram, principalmente, em instituições de ensino (64%), como escolas e faculdades.

A primeira pesquisa da marca, divulgada no ano passado, mostrou que ensino é muito afetado pela pobreza menstrual: 28% das mulheres faltavam às aulas por não conseguirem comprar absorvente.

Nessa nova rodada, a pesquisa traz que 2,9 milhões de estudantes atuais do ensino fundamental, médio ou superior já faltaram às aulas na escola ou na faculdade devido à falta de dinheiro para comprar produtos de higiene menstrual. Desse total, 2,4 milhões faltaram mais de uma vez.

A pesquisa calcula que isso resulta, em média, em 14 milhões de faltas de mulheres estudantes por ano, como consequência da pobreza menstrual.

O tema tem sido alvo de críticas ao governo de Jair Bolsonaro (PL) desde outubro de 2021, quando ele vetou o projeto que visava distribuição gratuita de absorvente a mulheres de baixa renda.

No entanto, no Dia Internacional da Mulher, o presidente assinou um decreto que prevê distribuição gratuita de absorventes para 3,6 milhões de mulheres em situação de vulnerabilidade, ou seja, quase 3 milhões a menos do que a medida que ele havia vetado no ano passado.

Dois dias depois, o Congresso derrubou o veto de Bolsonaro à política de distribuição do item de higiene menstrual a mulheres em situação de vulnerabilidade, inclusive privadas de liberdade. Entre os motivos apontados foi a maior abrangência da lei do que a medida editada pelo chefe do Executivo.

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