MATHEUS MOREIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um estudo publicado na revista Sleep Epidemiology (Epidemiologia do Sono, em tradução livre) indica que 65,5% dos brasileiros têm sono de má qualidade. As mulheres são as mais afetadas: quando comparadas às dos homens, as chances de dormir mal são 10% maiores para elas.
A qualidade do sono é definida pela pesquisa por fatores como duração (falta ou excesso), regularidade (interrupções durante a noite) e estados (leve, profundo e REM). A satisfação pessoal com o sono também é considerada.
O sono ruim compromete a retenção de informações e de memórias e causa irritabilidade e cansaço, entre outros problemas.
Os dados foram coletados entre os dias 16 e 30 de março de 2020, poucos dias depois de a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretar a pandemia de Covid-19.
A iminência da alta de casos no Brasil, a possibilidade de lockdowns e o medo de perder o emprego contribuíram para aumentar a ansiedade e depressão entre os brasileiros, levando à piora do sono, segundo Luciano Drager, presidente da ABS (Associação Brasileira do Sono) e professor da Faculdade de Medicina da USP.
Os fatores de risco são maiores para habitantes do Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul. Viver em qualquer uma dessas regiões aumenta em 12% a chance de ter pior qualidade de sono em comparação com a região Norte. Quem mora nessa área, segundo o estudo, está mais protegido contra sono ruim.
“Para nossa surpresa, a região Centro-Oeste é a que teve o indicativo de pior qualidade de sono. O ritmo dos grandes centros, que nunca param, pode influenciar. Por isso esperávamos que o Sudeste fosse a região com pior índice.”
Ser jovem também é um fator de risco para dormir mal, devido a hábitos como uso excessivo de celulares antes de dormir, consumo de café, energéticos e outros estimulantes, além de trabalho e estudo em ritmo acelerado.
Cruzando fatores de risco, o perfil que se destaca é o da mulher jovem que vive no Centro-Oeste. O homem que vive na região Norte é o perfil mais protegido contra o sono de má qualidade.
Em relação a rotinas, usar celulares antes de dormir é outro fator que diminui a chance de uma noite bem dormida. Atividades interativas como curtir fotos ou fazer comentários em redes sociais deixam o cérebro em alerta e atrasam o sono.
Entre os achados, chamou a atenção dos pesquisadores o que está relacionado a pessoas que têm companheiros mas não dormem na mesma cama ou no mesmo cômodo.
“O sono dessas pessoas é pior. Já sabemos que quando um parceiro tem um distúrbio do sono ou ronca, o outro tem mais chance de dormir mal. Porém, dormir separado também pode estar associado a piora do sono, o que nos leva a alguns questionamentos”, diz Drager.
Uma das hipóteses levantadas é um problema de relacionamento. A dificuldade neste caso se traduziria em estresse e ansiedade, afetando a noite de sono.
Os pesquisadores também destacam o papel irrelevante da classe socioeconômica dos voluntários nos resultados obtidos.
Dalva Poyares, neurologista e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e membro da ABS, afirma que a chegada da Covid-19 “igualou para pior” a relação entre a qualidade do sono e a classe socioeconômica analisada.
“Um exemplo é alguém de classe alta [A] que tem ou tinha seu negócio, mas passou a ter medo dos riscos e imprevistos causados pelo vírus. A situação gera aumento do estresse e queda da qualidade do sono.”
COMO FOI FEITA A PESQUISA
A pesquisa recebeu 2.635 respostas de voluntários com 18 anos ou mais ao questionário PSQI (Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh, em português).
O PSQI é composto por 19 itens divididos em sete componentes que somam pontos de 0 a 3 cada. O resultado máximo do teste é 21 pontos. Quanto mais próximo de zero for a pontuação de uma pessoa, melhor é o seu sono. Valores superiores a 5 indicam sono ruim.
Os participantes responderam ao questionário online aplicado pelo Ibope Intelligence. O resultado médio do PSQI brasileiro foi de 7,3, indicando que o brasileiro dorme mal.
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